Mais lucrativo que cocaína: políticas de Ricardo Salles facilitaram contrabando de ipê-amarelo

Reportagem da piauí revelou esquema de extração do ipê-amarelo no Pará com destino aos EUA envolvendo alteração de guias florestais e tráfico de drogas

Características como dureza, resistência e traço suave fazem do ipê-amarelo uma madeira altamente consumida pelo mercado estadunidense. O problema começa quando lotes do artigo são enviados do Brasil ilegalmente, com envolvimento do poder público e custo tão valorizado a ponto de fazer crescer os olhos de membros do Primeiro Comando da Capital (PCC).

É o que revela a reportagem A conexão, da revista piauí em parceria com o Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP) e o Center for Climate Crime Analysis (CCCA).

A partir da investigação do trajeto de 53m³ de ipê-amarelo, do estado do Pará até Nova York, nos EUA, entre fevereiro e abril de 2019, a matéria descobriu que o esquema foi facilitado pela atuação do então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles

Uma das formas de sua atuação seria a alocação de André Heleno Silva, da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), e Walter Mendes Magalhães, policial militar aposentado, em áreas estratégicas do Ibama, mesmo sem experiência de ambos na temática ambiental.

Do início do trajeto, no Pará, até chegar aos EUA, valor do ipê-amarelo saltou 89x, 5x mais que cocaína (Foto: Toninho Tavares/Agência Brasil)

O ipê investigado foi extraído da Floresta Nacional do Jamanxim, no Pará, estado que entre 2008 e 2020 teve 3,3 milhões de m³ de madeira extraídos ilegalmente. 

A apuração descobriu que o custo do lote saltou de R$ 21 mil, logo após a extração, para R$ 1,8 milhão, no destino final — uma valorização de 89 vezes, cinco vezes mais que a cocaína. 

O envolvimento com o tráfico de cocaína é outra parte da jogada, contribuindo para lavagem de dinheiro e ocultamento da droga em navios rumo aos EUA e Europa.

O texto revela ainda que as negociações incluem a adulteração de guias florestais e a venda sucessiva do ipê-amarelo entre empresas envolvidas em crimes ambientais e registradas em nome de laranjas.

Em maio do ano passado, Ricardo Salles foi alvo da operação Akuanduba, da Polícia Federal, que investigava facilitação para exportação de madeira ilegal. Na época, ele negou as acusações e declarou que a forma como o inquérito foi elaborado pela PF “induziu o ministro relator a erro”, no caso, Alexandre de Moraes. O ex-ministro disse ainda que a operação Akuanduba foi exagerada e desnecessária. A respeito da investigação feita pela Piauí e órgãos parceiros, não consta posicionamento de Ricardo Salles.

Confira a matéria completa da piauí aqui.


* Texto publicado originalmente em Diálogos do Sul Global.