EUA têm duas vezes mais pessoas em situação de rua que Brasil

Somente cidade de Nova York tem população sem-teto maior que todo estado de São Paulo

Em 2023, a população em situação de rua nos EUA bateu a marca de 650 mil pessoas. É o maior número desde o início da série histórica, em 2007. As informações são do Brasil de Fato.

Os dados, por si só alarmantes, são ainda mais preocupantes no inverno, quando em algumas regiões do país pode nevar e a temperatura ficar abaixo de -30 ºC.

Nova York, por exemplo, tem média de 4,2 ºC na época mais fria do ano, com mínimas que podem variar de -2 ºC a -20 ºC. Lá, a maior cidade dos EUA, 100 mil pessoas não têm onde morar.

A medida escolhida por governos de diferentes localidades, incluindo NY, Boston e Chicago, é oferecer a esses cidadãos abrigos, estações e bibliotecas para que se protejam nos dias mais frios.

Segundo Stephen Metraux, especialista em Políticas Públicas e professor da Universidade de Delaware, a saída é paliativa e não resolve o problema a longo prazo:

“São medidas efetivas para não deixar que as pessoas congelem até a morte. No entanto, esse é um dos muitos problemas que pessoas sem-teto enfrentam”, explica. Ainda segundo Metraux, essa comunidade precisa de um lar e de serviços públicos para tratar questões de saúde mental e física.

Comparação com Brasil

No Brasil, a questão da população em situação de rua agudizou na última década, saltando de aproximadamente 22 mil pessoas em 2013 para 227 mil em 2023, uma alta de mais de 1000%. A informação é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base no Cadastro Único (CadÚnico) do governo federal.

Comparando os dados do Brasil e dos EUA, a soma de pessoas sem moradia no “guardião da democracia mundial” é 186,34% maior que no território brasileiro — ainda que a população estadunidense (331,9 milhões, em 2021) seja apenas 54,88% maior que a brasileira (214,3 milhões, em 2021).

Na relação população total versus pessoas em situação de rua, cerca de dois a cada mil estadunidenses não têm teto, frente a um a cada mil brasileiros.

Ao confrontar as maiores cidades de cada país, São Paulo e Nova York, o contraste é mais nítido: são 100 mil cidadãos vivendo nas ruas da cidade novaiorquina, 61,29% mais que os 62 mil da capital paulista e o equivalente ao total de sem-teto em todo o estado de São Paulo.

A população da cidade norte-americana (8,47 milhões) é 26% menor que a paulistana (11,45 milhões, sem considerar a região metropolitana), mas tem sido destino de milhares de imigrantes que chegam em ônibus despachados pelo governo do Texas.

Apesar da diferença entre os números, o professor Stephen Metraux explica que a causa do problema é a mesma tanto nos EUA quanto no Brasil: má distribuição de renda.

“Os EUA são um país muito rico. Acredito que existam recursos para resolvermos esse problema e por algum motivo a gente não resolve. Apesar de toda a riqueza que esse país tem, ela não é igualmente distribuída”, finaliza.


* Com informações de Brasil de Fato.
Publicado originalmente em Diálogos do Sul.