Em entrevista, Pontífice fala sobre carência de líderes, espera por salvadores e exploração da classe trabalhadora: “um dos pecados mais graves”
“Não se pode alcançar uma segurança parcial, para um país, se não for uma segurança integral, para todos”, afirma o Papa Francisco em entrevista à jornalista Bernarda Llorente, da Telam, a Agência Nacional de Notícias da Argentina.
Na conversa, que aconteceu no fim de setembro e foi publicada nesta segunda-feira (16), o Pontífice afirma que garantir a segurança para todos os povos do planeta demanda construir um diálogo universal, que ultrapasse barreiras nacionais, “especialmente hoje com todas as facilidades que existem para nos comunicarmos”.
A guerra, em contrapartida, é o inimigo dessa ideia: “Desde a Segunda Guerra Mundial […] estamos vivendo uma guerra mundial em pedacinhos”, observa, uma crítica que reafirma suas declarações recentes sobre a escalada dos conflitos em Gaza.
“Que os ataques e as armas se detenham, por favor!”, afirmou no dia 8. Já no domingo (15), reiterou seu apelo à paz e implorou o respeito pelo direito humanitário “especialmente em Gaza, onde é urgente e necessário garantir corredores humanitários e ajudar toda a população”.

Questionado sobre o que, em sua percepção, leva às guerras, Francisco menciona explorações, disputas geopolíticas por controle territorial, razões culturais e ditaduras. Particularmente sobre a ascensão da extrema-direita no mundo, chama a juventude a enfrentar o problema, ao invés de esperar por super-heróis:
“Temos de ensinar aos jovens a como lidar com as crises. Isso dá maturidade. Todos já fomos jovens sem experiência e às vezes [nos apegamos] ao milagre, ao Messias, [acreditando] que as coisas se resolvem de forma messiânica. O Messias foi um só e salvou todos nós. O resto são todos palhaços messiânicos”, assevera.
Ao reconhecer a necessidade de que a juventude se engaje frente aos desafios globais, o Papa Francisco reconhece dois obstáculos à tarefa. Por um lado, há o individualismo, que anula a riqueza humana, enquanto o Flautista de Hamelin conduz o povo ao afogamento: “As grandes ditaduras nascem de uma flauta, de uma ilusão, de um encanto do momento. E depois dizemos “que pena, todos acabamos nos afogamos”, alerta. Por outro, faltam protagonistas dispostos a liderar as lutas: “[Tem] gente que acredita que pode sair da crise dançando ao som da flauta, com redentores feitos de um dia para o outro. Não. A crise deve ser assumida e superada”, afirma.
O diálogo com o Papa também toca na questão do trabalho, e ele é enfático na crítica contra a exploração dos trabalhadores, “um dos pecados mais graves”. Para Francisco, aliás, não há meio-termo, ou o trabalho é com direitos, ou é escravo:
“Algoz não é apenas aquele que mata uma pessoa, também é quem a explora. Temos que estar cientes disso. […] E quero deixar claro que não sou comunista como dizem alguns (risos). O Papa segue o Evangelho”, reitera.
Na entrevista completa, Francisco oferece ainda declarações sobre temas como Inteligência Artificial – ferramenta a ser “gerida, assimilada e controlada” pela humanidade – e a necessidade de renovação da Igreja Católica “a favor da dignidade das pessoas” – um processo que demanda equilíbrio entre tradição, cultura e progresso.
Confira as versões: original [espanhol] e traduzida.
Publicado originalmente em Diálogos do Sul.